sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Little Brazilian Boys


Meninos.
Meninos nacionais.
Meninos made in favela,
Produtos de venda interna.
Meninos de AR-15 na mão.
Meninos, no rosto apavorado.
Meninos nos cruzamentos.
Meninos do carnaval.
Meninos do futebol,
O sonho brasileiro.
Meninos jogam bolas de gude.
Meninos empinam pipas,
E, meninos sacam canivetes.
Meninos do descaso.
Meninos do esquecimento.
Meninos de Copacabana.
Meninos de Itabira.
Meninos de Iracema.
Meninos de sandálias havaianas.
Meninos batedores de carteira.
Meninos da praia.
Meninos das ruas.
Meninos das praças.
Meninos sentem fome.
Meninos comem lixo.
Meninos cheiram cola.
Meninos querem coca-cola.
Meninos dão a vida.
Meninos dão o corpo.
Meninos sentem medo.
Meninos metem medo.
Meninos do noticiário.
Meninos made in Febem.
Meninos nossos.
Meninos azuis e anis.
Meninos que grafitam brasis.
Meninos de Brasília.
Meninos do Rio.
Meninos na garoa de São Paulo.
Meninos no mar a esperar.
Meninos nas ruas a brincar.
Meninos que não escrevem seus futuros.
Apenas, meninos.

Escute: Waters of March - Peter Gabriel e Marisa Monte
Fotografia: Eduardo Dias Gontijo

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pas-de-Deux

Dançamos um conto de amor.
Uma história de risos e lágrimas.
Um caso de dor e cotovelo.
Somos lamentos e apelos.
Juntos, formamos letra e música.
Cantamos duetos nas praças.
Eu acentuo a vogal, você une a consoante.
Fundimos um dígrafo.
Fizemos pactos, assinamos acordos.
Somos confete e serpentina.
Presos num cárcere conjugado.
Já ajustamos nossos mapas astrais,
De forma que vivemos
Um o outro.
Somos o nosso público.
Dividimos as estrelas.
Escrevemos nossas homenagens,
Nossas dedicatórias, nossos diários.
E eternizamos tudo que falamos
Numa só frase engasgada.
Gravamos numa fita, qualquer canção
Que nos descreva, que nos faça amar mais.
Pensamos cada dia mais no outro.
Pertencemos cada vez mais à vida do outro.
Não sei nem caminhar com meus próprios pés.
Não sei nem respirar outro ar,
Sem o teu a me contornar.
Não te ensinei a falar,
Para só entender minha linguagem.
Não disse onde era a porta,
Para você nunca procurar a saída.
Sobrevivemos de uma idéia antiga,
Num livro que dedicamos ao mundo lá fora;
Tivemos que renunciar ao resto.
Não deixamos pistas.
Não confessamos nosso segredo.
Não falamos nada,
Calamos para o mundo nos esquecer,
E continuarmos dançando,
Até um decidir parar a música.

Escute: Monday Morning - Melanie Fiona