quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Paranóia

Sempre acho que sendo estranho,
Mudo algo na existência,
Mudo o rumo das coisas.
Faço, desfaço e refaço minha vida.
Trabalho em círculos.
Não chego a lugar nenhum,
Às vezes, nem mesmo saio do canto,
Tenho nóias irreparáveis,
Sou um doido que se faz de são.
Acho sempre que me observam.
Interpreto mal as palavras.
Escrevo cartas para rasgá-las,
Coloco letras no papel para embaraçá-las,
Coleciono amantes para confundi-los.
Danço conforme a música que inventar.
Temo seguir modas, tendências...
Faço de conta que me drogo,
LSDs e lança-perfumes:
São minha melhores fantasias.
Mas não tenho coragem de tentar,
Procuro outro combustível.
Não gosto de pessoas comuns,
São passivas, são pálidas demais.
Não se atrevem, não se esborracham como eu.
Gosto de monas e tolos,
Modernetes que se modificam.
Admiro déspotas e reis,
São autênticos.
Posso ser até fascista, ou mesmo, um comunista,
O que causar frisson.
Adoro ser comentado, ser assunto,
Ser algo brilhante.
Minha paranóia é o destaque.
Plumas e paetês são meu uniforme.
Minha biografia é irregular.
Meus objetivos são mutáveis.
Minha estrada é até modificada.
Me desenho de lápis para apagar em seguida.
Uso borrões, não penduro gravuras.
Me multiplico em pontos
Até formar uma figura diferente,
A cada minuto anônimo

Escute: Talk Show Host - Radiohead
Eu não acredito em Juízo Final. Eu não acredito em céu e inferno. Eu não acredito na fila que iria percorrer pra pagar meus pecados. Acredito na ação e reação, acredito nos pontos que conquisto ou que jogo fora com a vida. Acredito que a fila dos meus pecados é logo ali, na proxima corrida. Acredito que o meu céu, Ele me mostra sem eu perceber e o meu inferno, percebo exatamente, pois lembro que eu comprei o ingresso pra ele. A balança. O preto e o branco da vida.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Ginger McKenna


Ginger povoa a América,
Se alimenta de luz néon,
Sobrevive com um punhado de migalhas,
Cobre-se de pelúcia.
Starlet emergente,
Num teatro em ruínas:
Linda, sorrindo, linda!
Uma pin-up de sonhos recuperados,
Um certo ar de tristeza nonsense,
Escondido numa gargalhada,
Num barzinho qualquer da 5th Avenue.

Ginger dança com os pingos da chuva,
Brinca com os sonhos nossos,
Desliza pelas esquinas,
Pára trânsitos, sobressalta os corações
E ri, descendo a rua.
Um jeito breathless de ser,
Um balanço no andar,
Um perfume no paradeiro:
Eis os sinais de Ms.Mckenna.

Ginger arruma o rabo-de-cavalo.
Percorre sua meia-arrastão.
Maquia-se na praia.
É malandra, é uma puta esperta.
Ninguém a abandona,
Ninguém a machuca.
Decadente sim, mas é fêmea demais,
É Ginger demais para isso.
É heresia não notá-la.
Coleciona vinis, cataloga nomes.
Vive sorrindo, pois "a vida é curta".

Ginger transa com o Rio,
Vê seu retrato na água do mar.
Ginger é paranóica, é doida varrida,
Paradisíaca,
Branda quando quer, mulher.
Aparece no imaginário deste poeta
Como uma música de inspiração,
Sempre inspiração,
Sempre estimulante,
Sempre embriagante.
Ginger festeja sua passagem,
Deixando um sorriso no rodapé desta página.

Ginger chegou em casa feliz,
De tanto ser feliz,
De tanto despistar a tristeza do início.
Ginger vestiu o melhor vestido.
Ginger colocou Billie Holiday.
Ginger pôs o anel que lhe dei.
Ginger deitou seu sorriso.
O jornal de manhã anunciava:
"O Fim do Mito",
Ginger Mckenna, lenda agora,
Deve estar rindo de tudo isso.

Escute: Heart of Glass - Blondie

Foto: Sharon Stone as Ginger McKenna in Casino Film

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Mantra Mentalizado nos Montes de Marina

Eufemiza os tempos de luto,
Individualiza todas as palavras ditas,
Lamenta os fatos esquecidos
E canta, entoando toda a melodia pagã.
Radicaliza seu clamor,
Desencadeia seus fenômenos pessoais,
Ergue a espada acima da cabeça,
Trava sua batalha com a paixão,
Com tudo aquilo que a faz ser humana.
Clama por amar menos,
Por esperar menos,
Mas as incertezas desequilibram
Toda a perfeição imaginada.
Desbota o manto de flores,
Tropeça no vácuo da frase;
Caminha nos montes,
Na geografia desenhada em suas pegadas.
Facilita o percurso de volta
E canta, espantando o terror,
A ausência e a dor.

Escute: Pagan Poetry - Björk

quinta-feira, 6 de setembro de 2007



Hoje eu pensei muito nos heróis de minha vida, talvez pelo fato de ser aniversário de um deles (happy birthday, dad!). Hoje eu pensei em como me tornar um deles. Eu escrevo, posso deixar versos e palavras pela galáxia, ainda assim, não acho que seria suficiente. Eu sonho, posso povoar um planeta com eles, mas continua parecendo pouco demais. Meus heróis são grandes homens e mulheres, são seres que caminham, sonham e inspiram, como qualquer outro ser, cujos super poderes são palavras, gestos e idéias que não quiseram mudar o mundo e ainda assim são gigantes. Vou continuar pensando em como me tornar um ou deixar essa idéia de lado e tentar sobreviver suavemente. Talvez eu me torne um deles, talvez.

Ilustração: Alex Ross, Justiça Vol. 12

Cacos

Limpa meu rosto com a tua mentira,
Junta meus cacos espalhados nele.
Limpa o corpo estendido no chão,
Não deixa a pista que foste tu.
Não, não fica.
Não tenta explicar nada,
São os pedaços meus perdidos
Que te procurarão.
São os cacos meus que te machucarão.
Levanta e sai.
Cuida deste corte exposto;
Não inflama teu caminho.
Fica com as minhas palavras
E vai embora.
Se quiser, leva um último sonho meu,
Que os outros, você já queimou.
Deixa meus cacos onde estão;
Deixa, que eu aprenderei a limpá-los;
Deixa, que eu aprenderei a continuar.
Leva teu espaço,
Leva cada lembrança em teus braços.
Fecha a porta e sai.
Silencia o barulho lá fora.
Silencia este coração que bate tanto.
Só não leva meus cacos,
Só não leva o que ainda resta em mim.
O céu permanece escuro
E eu não quero iluminar mais nada.
Não quero mais cultivar esperança
E desmoronar este muro em seguida.
Deixa-me cuidar das minhas feridas.
Deixa-me falar sozinho.
Não quero teus diálogos.
Não quero nenhuma palavra tua.
Vai embora
E deixa-me juntar meus cacos,
Antes que amanheça.

Escute: You´re the reason I´m leaving - Franz Ferdinand

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Challenge

Segura o desenho com as mãos.
Faz o céu cair para eu tocar.
Colhe este chorar.
Muda a estação:
É muito fácil cantar tristezas.
Pega a música com os dedos,
Com as cordas deste corpo em versos.
Deita neste chão de palavras,
Guarda em cada uma delas o meu sorriso,
Espalha todas elas neste jardim,
Neste jardim de estrelas.

Deixa escapar aquele discurso,
Que eu escondi no final do disco.
Conta as polegadas da minha ausência.
Combina os números que me resolvem.
Desmorona a paz conquistada.
Desespera todoo alivio encontrado,
Desespera algo em mim.

Abriga a chuva de espadas,
Perfuma a poesia do santo.
Define tudo na areia.
Amanhece junto comigo.
Liberta estas rimas.
Joga o vento pela janela;
Deixa esta linha incompleta.

Olha se o amor continua no mesmo lugar.
Desabotoa meus sonhos.
Muda a ordem das coisas.
Altera cada uma das peças.
Esconda as chaves e os segredos:
Luta por mim.

Constrói um sorriso neste rosto.
Constrói esta alegria.
Padece comigo.
Se apaga comigo.
Olha se já está tudo apagado.
Se continua do mesmo lugar,
O amor que acendi em nós.

Escute: Dream about me - Moby

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Cinco Vezes

Continuarei de um ponto.
Estarei pendurado na cruz,
Estarei às visceras,
Estarei naquele ponto
Por uma esperança de sol,
Uma manhã de sol.

Cinco vezes, caminhei a ti,
Meu sol de papel.
Meu deus de machê.

Faz-me esconder esta ferida aberta,
Poupa-me de cicatrizar.
Quero deixar sangrar
Até formar um rio
E quando a água subir ao céu,
Apagar-te.

Continuarei de um sorriso.
Vou abraçar esta fumaça,
Vou segurar esta sombra,
Vou confessar meus pedidos
Para uma estrela abandonada,
Meu pudor cadente.

Por vezes, o movimento das nuvens
Comoveu-me.`
É o movimentar dos cometas,
É o sopro de Deus,
Que me leva nos sonhos;
Somente Ele os escuta,
Ele e o sol.

Meu sol chamuscado,
Que eu apaguei com o dedo,
Que eu sujei com sangue.

Olha para mim com esperança,
Vê um futuro melhor,
Vê um sorriso no canto da foto,
Que eu continuarei nas páginas
Desta carta amarelada
Feita para ti.

Continuarei de um ponto,
Continuarei de uma lágrima,
Que já estava pronta quando nasci.

Estarei num túmulo,
Cantando meu epitáfio,
Cantando a música da morte,
Cantando para o sol.
Ele me escondeu da noite,
Ele falhou em sua missão,
Ele abriu uma frecha
Para eu correr para ti
E trair.

Continuarei deste ponto
Com as luzes apagadas,
Com as mãos queimadas,
Com as pernas feridas.
Eu roubei as estrelas,
Eu cobri o céu com um lençol,
Eu amarrei o sol num poema
E o apaguei num copo d'agua.

Apaguei o sorriso da foto,
Apaguei a lágrima que estava para correr,
Apaguei você.

Continuarei daqui.
Sentarei para esperar o sol.
Cinco vezes, caminhei a ele;
Cinco vezes, traí o caminho dos planetas;
Cinco vezes, apaguei uma verdade,
Para desenhar uma mentira em seguida.

Escute: Neon Bible -Arcade Fire

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Start


São 3 da manhã. Um ótimo momento de iniciar tudo isso. Mas, ainda um início.
Cronometrei agora o start das coisas, o primeiro cheiro dos versos.
Mais uma tentativa...