quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Anjo



Mesmo que tenha sido um passo,
Mesmo que tenha sido inventado,
Mesmo que tenha sido apenas uma fase,
Foste embora sem terminar o que falava.
Não me deste a chance de juntar tuas peças
E te seguir.
Não me colocaste no chão novamente;
De onde caí, era alto demais.
Mas, anjo, eu sobrevivi...
E agora tenho peças soltas nas mãos,
Faltam-lhe um encaixe teu.
Por isso, tentei tantas vezes te chamar.
Gritei, em vão, teu nome nos sonhos.
Percebi a poeira no nosso retrato.
Pediria então, que apagasse tudo,
Fazendo te esquecer por um instante,
Ser o que era antes disso.
Às vezes procuro sinais antigos de mim.
Mas você levou meu ontem,
Programando uma nova história,
Com palavras que eu não conhecia,
Com gestos que não eram meus.
Colocando asas em minhas costas
E partindo no momento errado:
Quando eu tive que seguir sozinho.
Anjo, eu só te peço um amanhecer,
Qualquer coisa escrita, pronunciada;
Você esqueceu um substituto,
Para estar na sua despedida.
Procuro tanto tua luz nos cantos da casa.
Pareço ainda ouvir teu barulho.
Tua ausência deixou versos incompletos,
Um palco vazio em mim.
Se falta cor agora,
Se uma lágrima até me escapa,
É neste silêncio que eu tento entender.
Ocupa estas paredes vazias.
Se dói demais o silêncio que preenche tua lembrança;
Se não vejo mais a sombra que você esqueceu de deixar;
Se não vi o adeus que não deu tempo de dar;
Se ainda guardo teu cheiro grudado na memória;
Se o teu sorriso, agora, só os outros contemplam, meu anjo.
Usa este corpo novamente,
Se alimenta de mim mais um pouco...
Minhas asas foram quebradas
E você esqueceu de me ensinar
A voar sozinho.

In memoriam ( 4 anos)

Escute: Sacrifice - Sinead O´Connor

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